Já abordei aqui no site separadamente pautas sobre liderança e sobre a importância das relações interpessoais no mercado jurídico. Minha recente conversa com a advogada Juliana Martinelli, no podcast Direito de Resposta, me fez refletir sobre a estreita relação entre os dois temas. Durante a entrevista, a sócia e CEO do Martinelli Advogados, um dos escritórios que mais cresce no Brasil, me contou sobre sua trajetória, citou os cursos que fez ao longo dela – incluindo o de Leading Professional Service Firms, na renomada Harvard Business School -, e revelou qual o principal insight que traz dos múltiplos aprendizados que teve durante sua formação.

“Ouça as pessoas. Cursos são importantes, livros são importantes, todas as fontes de informação e conhecimento são importantes. Porém, as ideias mais brilhantes, as perguntas mais interessantes e as respostas mais bem sacadas eu ouvi e não li. Eu ouvi tanto das pessoas que estavam comigo fazendo os cursos que fiz, quanto das pessoas que me cercam no escritório e dos meus queridos clientes. As pessoas são uma fonte de aprendizado infinito, elas são a fonte mais rica, são o nosso ativo número um. E é nelas que eu deposito o meu futuro e o do escritório”, disse Juliana.

Essa resposta, vindo de uma profissional que é responsável pela liderança de um escritório full service, com 18 unidades espalhadas por diferentes regiões do Brasil me fez pensar na forte conexão que existe entre a comunicação e a liderança. Afinal, são muitos os fatores que constroem um bom líder e, sem sombra de dúvidas, entre eles está a sua capacidade de comunicação efetiva, uma vez que ela impacta diretamente no relacionamento com os colaboradores e, consequentemente nos resultados de uma empresa.

Uma boa comunicação é essencial para manter a qualidade de qualquer relacionamento, incluindo entre líderes e equipes, e não existe boa comunicação sem escuta ativa. A capacidade de ouvir o outro com atenção e compreensão é fundamental para uma boa liderança. Um líder que escuta de verdade sua equipe é capaz de criar conexões verdadeiras, construir uma relação de confiança e se alinhar aos seus colaboradores de maneira a criar um ambiente de trabalho agradável e produtivo.

A construção de boas relações interpessoais no ambiente de trabalho é, portanto, indispensável para que uma liderança possa ser, de fato, humanizada. Um clima organizacional saudável só pode ser construído em um espaço em que todos interagem com clareza e se mantém focados em um mesmo propósito. Nesse sentido, as lideranças se tornam os maiores responsáveis por promover a comunicação eficaz e transformá-la em uma ferramenta mediadora e construtiva.

Em um mercado supercompetitivo, que tem uma rotatividade alta de profissionais, como é o jurídico, a liderança focada nos bons relacionamentos é uma forma de manter talentos em sua equipe, inclusive. Não à toa, Juliana me contou que a taxa de rotatividade do Martinelli é inferior à média de mercado, de acordo com pesquisas feitas pelo escritório. Ela destacou o alinhamento de propósito como fator importante para tal resultado: “É claro que a gente busca remunerar as nossas pessoas da melhor forma possível e que oferecemos bons benefícios. Mas o que de fato a gente investe para a manutenção dos nossos talentos é o nosso propósito. Procuramos ter bem claro o nosso propósito para propiciar para as nossas pessoas o alinhamento com propósito delas como o nosso. Investimos muito todos os dias para transformar isso em realidade”.

Parte do que define a cultura de uma empresa são suas lideranças. O tipo de gestão influencia na satisfação dos colaboradores e, consequentemente nos resultados do negócio. Uma liderança humanizada, voltada para as relações humanas, como é a de Juliana, favorece uma cultura de governança mais empática e promovendo um equilíbrio maior entre a vida pessoal e a profissional. Proporcionando qualidade de trabalho e de vida, uma liderança humanizada promove um ambiente de trabalho saudável e uma maior colaboração entre as equipes, fazendo com que as pessoas se tornem mais produtivas.

A CEO do Martinelli revelou que o escritório é tão focado no bem-estar de seus colaboradores, que mantém uma equipe de profissionais de psicologia à disposição para todos: “A gente tem psicólogos em todas as unidades do escritório, não só para recrutamento e seleção. Eles estão lá ‘full time’ para cuidar das nossas pessoas, do clima do escritório, para assessorar os nossos líderes nos dramas que eles têm e ajudá-los a entender como melhor conduzir as pessoas. Estão lá para olhar nos olhos de cada um, fisgando lá no cafezinho aquela pessoa que está de farol baixo e precisando desabafar com alguém que possa auxiliá-las nos seus planos de carreira e de desenvolvimento”.

A advogada garante que o investimento traz retorno à empresa e ajuda na manutenção dos talentos que fazem do Martinelli o que é hoje. “É um investimento que eu entendo que dá resultado. Esse cuidado faz com que as pessoas percebam que de fato nos importamos com elas. Que elas não são só um número e que nós vamos cuidar delas para além do profissional. Essa é a nossa maior estratégia para manutenção dos nossos talentos: investir na atenção e no cuidado. Eu não conheço outro escritório que investe do mesmo jeito no bem-estar e na segurança psicológica das pessoas”, finaliza ela.

Em uma era de grandes mudanças como a em que vivemos hoje, onde as dinâmicas organizacionais, de trabalho e operacionais são completamente diferentes do que já foram um dia, a escuta ativa e o cuidado que Juliana tem com aqueles que ela chama carinhosamente de “suas pessoas” é o que faz dela uma líder diferenciada. Os bons resultados conquistados por meio da valorização das relações humanas destacada por ela em nossa conversa é um exemplo claro de que, mais do que nunca, é necessário repensar os modelos organizacionais e de liderança antigos, que focam apenas a cadeia de competências, funções e tarefas, para alcançar sucesso em mercado jurídico cada vez mais competitivo.